Junho'19

 

Quem me conhece há algum tempo sabe que desde 2013 me aventuro pelas ruas de Lisboa (e não só) espalhando a minha arte pelos turistas e transeuntes das ruas de Lisboa .

 O primeiro post sobre este tema foi sobre como esta minha aventura começou , este segundo será para satisfazer a curiosidade de quem não faz ideia de como arte de rua funciona em Portugal.  

Quero desde de já deixar claro que todas as opiniões desde texto resultam da minha experiência pessoal.

 Em primeiro lugar queria falar brevemente de licenças. Pois  bem, este é um assunto muito sensível, principalmente em Lisboa, as políticas da Câmara são insustentáveis para quase todos os  artistas de rua, pois como podem imaginar ninguém anda a fazer fortunas de milhares de euros a atuar na rua.

 

Licenciamento (em Lisboa): 

 

 Em Lisboa, para obter uma licença teremos de  pagar uma taxa de ocupação de via por m2 (com local e hora destinados) que também não é fácil, mas  fora burocracias, um valor razoável. Há uns anos atrás ainda se pagava um taxa de  abertura do processo do pedido de licença (cerca de 400€ ) entretanto foi abolida esta taxa. A questão torna-se complicada quando nos pedem para pagar a taxa de ruído. Quando fomos pedir licença fizeram um cálculo de cerca de no mínimo 1500€ mensais. Resultado: desistimos de pedir licença porque era totalmente insustentável para nós pagar a licença de ocupação de via mais taxa de ruído.

[Nota : hoje não estou totalmente atualizada sobre estas taxas e sei que existem pessoas a lutar para mudar estas medidas]

 Resultado: andámos estes anos todos sem licença, o que traz vários problemas com as autoridades. Existem profisisonais que fazem o seu trabalho com educação e compreensão e temos outros que nos tratam como se fossemos criminosos (estes últimos normalmente à paisana). 

Atuando sem licença a polícia, havendo queixa  ou não, pode:

 - Exigir o termino da  atuação

- Proceder identificação oficial  do(s) artista(s)

- Proceder à apreensão de qualquer material utilizado na atuação, que só poderá ser recuperado perante o pagamento de uma multa

Além de problemas com as autoridades, a falta de licença também causa alguns atritos com outros artistas de rua, pois por incrível que pareça existem artistas que mesmo sem licença tornam-se um pouco territoriais e mesmo que Lisboa dê para todos, o ser humano por vezes prioriza os € acima de tudo. Quero realçar no entanto que existem mais pessoas boas, interessantíssimas e razoáveis  a trabalhar na rua do que ao contrário.

À medida que vamos adquirindo experiência vamos aprendendo um “código de conduta” que permite nos manter por muito tempo nestas andanças.

Também atuamos no Algarve, que apesar de ser complicado com burocracias é muito mais tranquilo (cada cidade tem as suas politicas no entanto).  Apesar de no aspecto da territorialidade dos artistas que já atuam no mesmo local  há anos que na maioria dos casos é muito mais acentuada, de forma geral tudo é mais pacifico.

Eu gosto muito de dançar na rua ( quando acompanhada pela minha amiga Sabina :) ), tem muitos momentos gratificantes. Conhecemos pessoas de todos os países, inspiramo-nos com sua arte e passamos momentos muito bons . Temos o nosso próprio horário ( claro condicionado pelo tempo e horário de maior afluência de turistas) fazemos bons contactos, podemos nos expressar criativamente, temos oportunidade para falhar e aprender com isso sem temer grandes repercussões e é no fundo uma experiência riquíssima. 

 

Não é fácil, não vou mentir :

-Exige muita stamina  (andar a palmilhar as colinas de Lisboa com “tenda”  à costas na verdade é o que cansa mais :P) .  

-Temos por vezes um público difícil, mas não podemos desanimar.

-Temos de nos coordenar com outros artistas

-Temos de ter cuidado com a policia

 -Temos de garantir que não estamos incomodar ninguém, 

-Temos de estar atentas à meteorologia ( e com o Verão como o deste ano ninguém merece ihih). 

-Temos de lidar com muita gente sem formação, sem educação e muitas vezes agressiva, mas isso é algo que se vai aprendendo a com o tempo. 

-Temos de lidar com o facto de sermos duas raparigas jovens,  que infelizmente não impõe o mesmo respeito que um grupo de homens.

 

Em conclusão é muito gratificante, crescemos muito, mas é muito instável e muitas vezes drenante.

Com o tempo vamos crescendo, desenvolvendo as estratégias mais eficazes  e torna-se mais fácil  e posso dizer que estou muito grata por esta experiência na minha vida <3